Hoje é dia. Depois de
lutar contra a preguiça eu tomo um banho e abro o guarda-roupa. Eu
não preciso usar o macacão da “moda”, com a meia da “moda”
e o tênis da “moda”. Nem passar maquiagem. Coloco a roupa que me
deixa mais confortável e saio.
Chegando lá, um
espelho enorme. No início você se olha, dá uma arrumada no cabelo,
pensa se escolheu a roupa certa por causa daquela gordurinha que está
marcando na roupa. Pensamentos que duram só até o início da aula.
Ao som de Norah Jones,
ou outros cantores de Jazz, ou alguma trilha relaxante, a professora
pede um exercício simples: que você leve o seu braço à frente e
eleve a perna contrária. Ou que levante e abaixe os braços com o
aparelho que você está utilizando. Ou que você se deite no chão e
levante o quadril. Sem esquecer de expirar na subida, inspirar na
descida. Sem esquecer do abdomem e do períneo contraídos. Sem
esquecer de encaixar o quadril e manter as pernas ligeiramente
flexionadas.
O que seria um
exercício aparentemente tranquilo de “elevar a perna”, se torna
um exercício de concentração. De repente você não consegue
lembrar da briga com o chefe e daquela conta pra pagar porque a sua
mente está ocupada com “expira, inspira”, “contrai o abdomem”
ou “puta que pariu, não vou dar conta de repetir”. Você tenta
aproveitar o tempo pra resolver mentalmente qualquer coisa e não consegue. Melhor deixar pra depois mesmo. É hora
de aproveitar aquele tempo que você conseguiu tirar entre trabalho,
descanso, contas, supermercado, filhos, casa e tudo mais que ocupa um
dia agitado de alguém, para cuidar de você e do seu corpo.
Você continua ali na
frente do espelho e ele não te cobra aparência. Mesmo com outras
pessoas na sala, é só você e ele e a voz da professora. Ela
orienta o exercício. Ele te cobra postura, cobra o movimento
correto, a respiração correta. Um alívio, num momento em que você
chega nas academias e as pessoas estão mais preocupadas com a imagem
que estão passando do que com o exercício que estão fazendo. Que
mulheres passam maquiagem e arrumam o cabelo pra malhar, que homens
ficam disputando quem pega mais pesado e só sabem conversar sobre o
suplemento da moda. Que a roupa que você usa tem que necessariamente
coladíssima pra mostrar cada músculo trabalhado do seu corpo. Só
não entendi porque as roupas precisam ser tão bregas. Um culto ao
corpo meio esquisito.
O tempo passou sem
que você percebesse. Você está corada, com o cabelo ligeiramente
bagunçado. Pelo menos a missão de hoje foi cumprida. Trabalhou postura, flexibilidade, equilíbrio e coordenação, fortaleceu o assoalho pélvico e a musculatura, melhorou a circulação, esqueceu o stress, aumentou a auto estima. Mas olha, seu Joseph Pilates, se você estivesse aqui agora eu te perguntaria se pra você foi fácil, porque pra mim não foi, não.
Faltam forças na perna pra caminhar e pra segurar a embreagem do carro. Falta força nos braços até pra levar um copo d'água à boca Você
percebe que está tão cansada que pensa em não voltar no outro dia.
Aliás, pensa não. Você tem certeza. Não dá, muito puxado, muito
cansativo. Amanhã, inclusive eu não venho porque tenho isso e
aquilo pra resolver. Não volto. Mas você acaba voltando. Sempre
volta.
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